segunda-feira, 8 de junho de 2020

Terreiros

À minha família, com as boas lembranças da Camponesa


Passem ventos, passem chuvas,
passem pés pelos cercados,
passem luas prateando
suas túnicas de barro...

Terreiros... terreiros...
Terreiros onde corri...

Terreiros tão bem varridos
no ofício das moradeiras...

Terreiros enlameados:
os pés largos e descalços
à sombra das catingueiras...

Terreiros de onde avistava
o estreito banco de madeira,
a sopa no prato fundo,
a ágata descascada...

A avó emoldurada
na janela, ao sol poente...
O ângelus cobrindo,
seu lençol alaranjado,
o terreiro e toda a gente...

A antiga casa, sua alvura
feito uma súbita garça,
feito renda das núpcias
do baixio e da enxada...

Terreiros... terreiros...
Terreiros, onde estais,
senão sob esses chinelos
da saudade que vos canta
para além dos umbrais da vida?...

Essa vida, que, vivida,
sempre espera viver mais.




Kalliane Amorim

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