segunda-feira, 8 de junho de 2020

Conversa de poetas

Há cerca de um ano, conversávamos por meio de uma rede social, que muitos quilômetros nos separavam: ele lá, na Paraíba, eu cá, no Rio Grande do Norte. Não suspeitávamos que chegaria este tempo de agora, em que as conversas, obrigatoriamente, têm que ser assim, sem perspectiva próxima de um face a face, num café, falando da beleza e das lições da vida e dos livros.
Nesse dia, a pauta era a dicotomia vida/morte. Ele quem começou:

Sagrada a pedra que pulsa no calor da noite.

Sagrado o céu que se esconde dentro de mim.

Sagrada a senha
que abre a porta
do desespero
e me veste a alma
incendiada
de estrelas.

Sagrado o cavalo mudo da palavra
aberta para as planícies da vida.

Sagrada, a vida.
Mais sagrada 
a morte, que vai
me levar para nunca mais voltar.


E eu respondi, pensando na morte e seu mistério;

Para onde vai o homem
quando seu corpo
é só um corpo que some?

Onde tempo e espaço
não têm nome,
o que é feito do homem?

Ó morte, tua face ocultas...
Um passo, e desvelas
teu segredo à criatura.


E, lançando possíveis respostas às minhas perguntas, ele disse, não sem se questionar ao final:

Homem,
não vou a lugar
nenhum
e vou a todos
os lugares.

Principalmente
aos lugares
que não existem.

Pode ser
uma cidade antiga
e submersa
na agonia.

Pode ser um jardim
feito de lilases acesos.

Pode ser a cratera
da terra desolada.

Qualquer geografia
é falta, é perda.

Homem,
que porto é seguro?

A casa, o lar,
o túmulo, o poema?


Hoje, passados tantos dias dessa conversa em versos, eu retomo esse fio de palavras para lhe dizer, Hildeberto:

Homem,
o que me move é o corpo
e algumas poucas palavras.

Sentidos e símbolos
soerguem-me nas manhãs,
concretos e densos
como a água, como o vento,
em estado de fotografia.
Mas puro instante,
volátil, bem sei,
entre o peito largo
e as mãos vazias.

Homem,
por mais que me ampare
de mim,
sempre me falta a pedra
onde recostar o que vim
ser e fazer nesta vida.

Pobre,
agarro-me à terra,
beijo-a, minha poesia,
eu, homem apenas,
a esperar o cantar dos galos
anunciando a cor do dia.



.............

Poemas de Hildeberto Barbosa Filho e Kalliane Amorim.






 

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