Passa o vento tão de leve,
tão de leve vai roçando
a armadura das montanhas
com seus dedos muito brandos.
Passa leve e vai levando
nas suas luvas de ar
pequenos grãos das montanhas
para oferecer ao mar.
Tantos grãos a se espalhar
ao longo de toda a praia,
beirando a dança das ondas,
bailando com suas alfaias.
Se o sol adormece, se raia,
o vento segue com o tempo,
passando pelas montanhas,
em seu trabalho tão lento.
Vão passando o tempo e o vento,
e as montanhas, já esquecidas
de que foram grandiosas,
seguem o curso da vida.
A seus amigos unidas,
sob o sol que as acompanha,
amontoam-se na praia
as lembranças das montanhas.
As mãozinhas que as apanham
somente para brincar,
construindo seus castelos
ali, à beira do mar,
sequer podem suspeitar
que têm o tempo nas mãos,
o passado e o presente
ocultos em cada grão.
Tempo e vento passarão
de leve, pela armadura
das montanhas mais distantes,
tornando-as areia pura.
Faz parte dessa aventura
as mudanças aceitar,
ser grande, depois pequeno,
mas ser todo em qualquer lugar.
Depois que o tempo passar,
cada grãozinho de areia
que um dia já foi montanha
se unirá à maré cheia.
Talvez nem mesmo creia
o pobre e pequeno grão,
lá no fundo do oceano,
junto a tantos outros grãos,
que seu nobre coração
de pedra resistirá:
seu destino, ao fim das contas,
é tornar-se o assoalho
que sustenta o imenso mar.
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