quarta-feira, 20 de maio de 2020

Quimeras




Negro rebento

das águas emerso,

casulo de primaveras

recônditas, secretas...

 

Não sabeis dos sonhos

dormentes, à espera

de vosso beijo de vida,

à vossa espera,

negro menino

envolto em pobres quimeras

de luz e de cores,

esquecido, por um momento,

da vida,

da lida,

de seus tantos dissabores...

 

Menino,

sois vós a pérola negra

rejeitada pelos homens

em suas vestes brancas,

sua paz, sua champanha,

sois vós a mudez que arrasta

um grito seco da garganta:

tanta desigualdade,

tanta vaidade, tanta,

que se dão os homens as costas,

embora tudo em torno seja festa,

e o ano novo se repita

na fome que se agiganta!





Kalliane Amorim

...

O poema, embora escrito em 01 de janeiro de 2018, permanece atual, porque, infelizmente, a desigualdade em nosso país continua longe de ser amenizada, quiçá solucionada. Se ontem ameaçava os sonhos do menino de Copacabana, hoje cala inúmeros Joões nas periferias brasileiras. Uma rota de fuga é o que muitos desejam nesse contexto - haveria?

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