O vendedor de frutas
seguia pelo centro da cidade.
De seu carrinho de duas rodas,
pitombas e cajaranas,
seriguelas e umbus-cajás,
mangas, cajus e bananas
perfumavam de amarelo
aquela tarde acinzentada.
Não sabia o vendedor de frutas
que atrás dele eu caminhava
e observava as suas mãos,
suas mãos tão calejadas,
e olhava para os seus braços,
seus braços tão enervados,
e não podia deixar de mirá-los
sem mirar a mim mesmo.
Não foi preciso ver o seu rosto
para que nele eu me encontrasse,
e pensasse que poderia
ter-lhe dado um boa tarde,
ter-lhe comprado algumas frutas,
ter-lhe dito qualquer coisa
sobre as chuvas tão escassas,
ou mesmo lhe perguntado
sobre como ia seu dia,
se acaso saberia
me ensinar como escolher
uma fruta, madura e doce,
só em ver.
Mas atrás dele eu caminhava,
com meus bolsos bem vazios
de moedas e palavras...
Talvez numa outra tarde,
amarela e ensolarada,
eu o encontre novamente,
e nos vejamos face a face,
e possamos conversar,
seriamente, amenidades,
como convém aos homens
que se encontram dentro da tarde.
Kalliane Amorim
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