Desnudei-me,
nada fiz
a não ser despojar-me.
Deixei cair-me aos pés
cada folha ressequida,
e com elas fui erguendo
minha rútila ermida.
Alonguei minhas raízes,
adentrei minha própria terra,
fechei todos os meus bulbos,
encerrei minha própria seiva.
Ah, o tempo de estender
os meus galhos ao redor
do que sou, enfim, chegou!
O tempo de recolher
a memória do que era flor,
o tempo de engendrar
em fios acetinados
outro tom para o que for
toda entrega e gratidão...
Ah, o tempo, tão algoz
quando há verdor,
tão mais irmão
quando a feição
de meu corpo interior
se faz menos espinho,
portanto, uma centelha
do que soa ser amor...
Pode vir a tempestade,
que de minha parte,
desnudada,
entregue à fúria
da luz e do ar,
romperei o infinito
quando a primeira bainha
ao sol despontar.
11 de janeiro de 2018
...
Após 15 sessões de quimioterapia, inúmeros exames e alguns momentos de insegurança e medo em razão de um câncer de mama em plenos 37 anos - não fosse a fé que Deus plantou em meu coração e o cuidado constante de minha família e meus amigos, certamente teria sucumbido -, fui submetida a uma cirurgia no dia 03 de janeiro de 2018 (mastectomia com esvaziamento axilar) para dar sequência ao tratamento, que incluiria ainda 28 sessões de radioterapia e outras 12 sessões de uma terapia alvo intravenosa, o que só viria a concluir no final de outubro do mesmo ano. Ao todo, um ano e quatro meses de percurso.
Exatamente oito dias após a cirurgia, escrevi esse poema, com a certeza de que não há dor nem sofrimento que não se torne caminho de reconstrução de si quando abrimos o coração ao amor de Deus, que tudo pode em nossas vidas. A palavra mais vivida nesse tempo e até hoje é gratidão, porque nunca estive só, porque fui e continuo sendo amada pelo Senhor e por aqueles que, em sua infinita misericórdia, Ele colocou em minha vida.
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