– Corramos! – sussurra o tempo
aos meus ouvidos atentos.
Que mais ele me dirá,
senão das eternidades
escondidas sob as vestes
escarlates do crepúsculo?
Que mais há de me mostrar,
senão efemeridades
moldadas pelos ventos
à beira dos precipícios?
– Corramos! – insiste o tempo
em meu peito tão antigo.
– Leva-me até onde ergueste
tua tenda, ó peregrino!
Toma-me, que a ti somente
pertence este meu destino!
Sobre teu corpo translúcido
deitarei minha pobreza,
deitarei minha nudez...
Ouvirei tuas cantigas,
tempo amado, tempo amigo,
e, ouvindo-as, saberei
os teus secretos desígnios.
– Corramos, como se fôssemos
um do outro enamorados...
– Corramos, antes que a noite
arremate o seu bordado...
Antes que, tesoura em punho,
ela corte para sempre
os fios com que teceste,
em meu corpo, as tuas marcas...
Kalliane Amorim
Nenhum comentário:
Postar um comentário