sábado, 28 de novembro de 2020

À porta





Todos os caminhos

terminam em uma porta.

Mapas, bússolas, astrolábios,

diários de bordo, vários,

símbolos e sinais

de antigas rotas -

que importam,

se não tens a chave?


Planaste pelas campinas do ar,

equilibrado sobre a haste do tempo,

e vislumbraste a porta, entre as muralhas

invisíveis do firmamento...


Caminhaste, sempre tão atento

às minúcias de cada eterno

momento... Sob os teus pés,

a cada passo, a porta,

a aldrava e o consentimento.


Mergulhaste nas águas todas,

límpidas e turvas, teu movimento

era adiante, tua busca,

a ostra atrás da porta,

fluida e muda,

sobre cuja soleira,

silente, te prostras.


Ó porta bendita!

Ó tu, que separas

a vida da vida,

ó tu, que amalgamas

inícios e fins,

tem piedade, tem piedade de mim!


Abre-te às cores inomináveis

desta canção,

e aos arabescos que em ti

desenham estas minhas mãos...


Abre-te, ó porta, e deixa passar,

teu mistério e tua verdade...

Abre-te, que de ti mesma

são meu corpo e minh'alma a chave.



Kalliane Amorim


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