As sombras se estendem, longas, nas estradas,
e os ventos, em seu tropel, seguem seu curso,
desarranjando os arames dos cercados,
anuviando, pouco a pouco, todos os rastros:
cavalos, carros de boi, meninos, lagartos,
tudo vai se vestindo de um traje poento,
com aromas de guardado.
No alto do campanário,
um pombo arrulha as notas do dia,
e ao seu lado, solitário,
o crucifixo parece dizer tanto, calado...
Permaneço sobre o piso quente e ladrilhado
da pracinha defronte à igreja,
aguardando pelo sineiro –
é breve o ofício das seis.
Espero, espero, espero...
O sineiro, no entanto,
não vem,
não
vem,
não
vem.
Dobram os silêncios no meu velho peito,
e eu compreeendo:
as palavras fugiram-me do alforje,
a poesia, porém, como o cordeiro,
deu-se-me, por inteiro.
Amém.
Kalliane Amorim
(Escrito em 14 de julho de 2020)
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