Contestar já não era seu feitio.
Contentou-se.
Passava o vento, recolhendo,
em sua rede,
botões ensimesmados,
sóis de muitos estios.
Passava o vento,
e já não farfalhavam
nem palavras pelos galhos,
nem sombras no pensamento.
Contentou-se.
Dos tempos idos
ficaram, fundas, as raízes,
entalhadas cicatrizes
num corpo de despedidas,
por onde dançava
da paz a seiva,
casta, branca,
a seiva da vida.
Contentou-se,
chegada, enfim, a verdade:
com quantos outonos se borda
a sombra fresca da liberdade!
Kalliane Amorim
(Escrito em 24 de outubro de 2020)
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