Um pio agudo de coruja,
rasgando
a pele da noite,
anuncia
a tua chegada.
Vens
trazendo, sob a língua,
um
canto feito de sombras,
tecido
nas madrugadas.
Vens
trazendo, entre os dedos,
ramos
murchos de ciprestes
e
pedrinhas lapidadas.
Vens
trazendo, em teu alforje,
uma
lâmina, um espinho,
uma
adaga prateada.
Vens
trazendo, cavaleiro,
na
negra crina do tempo,
a
palavra mais exata.
Vens
chegando e te inclinando,
vens
em minha direção,
conheces
a minha estrada.
De
presente, vens trazendo
um
espelho, uma ampulheta,
outro
álbum de retratos.
Não
diviso o teu semblante,
oculto
sob um capuz
de
cores tão desbotadas.
E
antes mesmo que eu esboce
meu
sorriso, vais embora,
sem
dizer qualquer palavra.
Então
ponho numa agulha
frágeis
fios de memória
e
costuro os meu retalhos
De
cetim e de algodão,
de
linho, veludo e juta,
e de
sedas estampadas.
Vou
tecendo eternidades
neste
álbum que sou eu,
e o
que sou, senão palavras?
Vou
tecendo, enquanto espero,
numa
curva do caminho,
anunciarem
tua chegada.
Quem
sabe se novamente
trazendo-me
de presente
minhas
horas olvidadas.
Quem
sabe me dando a mão,
levando-me,
para sempre,
para
os campos da saudade.
Kalliane Amorim
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