domingo, 22 de novembro de 2020

Novembro


 

Um pio agudo de coruja,

rasgando a pele da noite,

anuncia a tua chegada.

 

Vens trazendo, sob a língua,

um canto feito de sombras,

tecido nas madrugadas.

 

Vens trazendo, entre os dedos,

ramos murchos de ciprestes

e pedrinhas lapidadas.

 

Vens trazendo, em teu alforje,

uma lâmina, um espinho,

uma adaga prateada.

 

Vens trazendo, cavaleiro,

na negra crina do tempo,

a palavra mais exata.

 

Vens chegando e te inclinando,

vens em minha direção,

conheces a minha estrada.

 

De presente, vens trazendo

um espelho, uma ampulheta,

outro álbum de retratos.

 

Não diviso o teu semblante,

oculto sob um capuz

de cores tão desbotadas.

 

E antes mesmo que eu esboce

meu sorriso, vais embora,

sem dizer qualquer palavra.

 

Então ponho numa agulha

frágeis fios de memória

e costuro os meu retalhos

 

De cetim e de algodão,

de linho, veludo e juta,

e de sedas estampadas.

 

Vou tecendo eternidades

neste álbum que sou eu,

e o que sou, senão palavras?

 

Vou tecendo, enquanto espero,

numa curva do caminho,

anunciarem tua chegada.

 

Quem sabe se novamente

trazendo-me de presente

minhas horas olvidadas.

 

Quem sabe me dando a mão,

levando-me, para sempre,

para os campos da saudade.





Kalliane Amorim

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