segunda-feira, 1 de junho de 2020

Diálogo íntimo




Ó lagarta listrada
porta-bandeira da primavera,
chegaste à minha casa
quando as chuvas escorriam
na vidraça das janelas.

Desarmaste-me, parada
sobre meus umbrais caiados,
pedindo-me um bocado
do fogo que me abrasa,
somente para poder
fabricar as tuas asas.

Lagarta, lagarta...
Dá-me entrar em teu casulo,
em teu mundo obscuro,
em teu grávido mistério...
Dá-me ser tua clara redoma,
dá-me ser tua donzela,
protegendo essa chama
que não descobriste em ti.
Pois que nesta minha casa
de sonhos e de palavras,
eu só tenho a poesia,
minha humilde oferenda.
Porém tu...
Tu podes voar mais alto!

Tu conheces o silêncio
que germina a primavera
nas sendas do meu olhar...
O silêncio que conhece
a nascente das palavras
com que teço minhas asas
para os voos mais incertos,
entre os vales e os montes
de minh'alma peregrina,
de meus olhos de menina,
que ignoram nome e verbo...

Mas que nessa busca infante,
redescobre os infinitos
alados, ocultos,
em seres como tu,
pequenina lagarta,
que trouxeste a primavera,
com seus pássaros,
com suas flores,
com suas cores e olores
para dentro de minha casa.




Kalliane Amorim

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