segunda-feira, 29 de junho de 2020

Lições deste tempo: o toque



“O tato é, porventura, o mais visceral, primário e delicado dos sentidos. Ele nos ensina o que permanece na pele, mas também quanto cabe (e cabe o universo) na ressonância de um simples toque. O tato é indelével e é concreto; é uma fronteira do corpo e um seu limiar; é anônimo e ardentemente singular; é pontual e conciso, mas a sua duração em nós é, não raro, incalculável.”

(José Tolentino de Mendonça)

Naquela tarde, tinha ido ao centro da cidade para um compromisso. Subindo os degraus do adro da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, detive-me um instante. Não poderia apenas passar por ali. As portas abertas me convidavam a entrar. Foi o que fiz. Lá dentro, o bom silêncio, entrecortado apenas por um ou outro barulho externo. Era fim de tarde, os carros e as motos seguiam apressados seu destino, mas dentro de mim tudo se passava lentamente. E, lentamente, crescia um mistério. Sentia-me como que “sócia” de Deus: acabara de descobrir que estava grávida. 

Lembro que, ao sair, recostei-me à porta principal e, erguendo o olhar para o alto, para a copa das árvores da pracinha ali em frente, para o céu ali acima, pensei por um momento estar mesmo mergulhada num grande milagre: uma vida a crescer dentro de outra vida, uma vida a esperar outra vida... Nada a fazer senão cuidar de mim para que aquela vida fosse cuidada, mas a mão que a moldaria trabalharia por si. Quanto a mim, caberia esperar. Esperar e imaginar cada particularidade daquele bebê: como seriam suas mãozinhas, seus pequenos pés, seus olhos, a textura de sua pele, seu cheiro... Uma espera carregada do desejo de ver e tocar.

Essa lembrança ocorreu-me hoje cedo, despertada que fui pelo meu filho, às quatro e meia da madrugada. Ele se achegou de mansinho e foi se aninhando embaixo do lençol, até adormecer de novo, quietinho, envolto em meu abraço e nos cheiros que lhe dava nos cabelos – devia existir um jeito de colocar esse perfume dos cabelos das crianças num frasco destinado aos instantes de saudade, depois que elas crescem.

Há quase uma semana ele estava adoentado, não sabíamos de início de que se tratava. Os sintomas indicavam uma arbovirose, mas nesse contexto de pandemia de covid-19, qualquer sintoma pode ser suspeito. Por precaução, o pediatra orientara distanciar-me de meu pequeno, já que estou num dos grupos de risco. Claro que minha vontade era ficar perto de meu filho, colocá-lo debaixo da asa, como se diz, cobri-lo de carinhos para ajudar a passar o dodói. Porém foram necessários alguns dias até sabermos que realmente era uma das viroses transmitidas pelo aedes aegypti. Nesses dias, não pudemos nos aproximar. Beijar com ou sem estalos nas bochechas e no cangote, abraçar apertado ou de leve, afundar o nariz nas ondas dos cabelos, falar pertinho, acariciar, enfim, toda forma de contato estava fora de cogitação. Sob o mesmo teto, distantes fisicamente, mas unidos no olhar e no coração.

E não seria essa a união verdadeira, a que está para além das fronteiras físicas? Sim, creio que sim, no entanto uma das lições desses tempos hodiernos é a de que necessitamos do contato físico com as pessoas. Faz falta o toque, o aperto de mão, o abraço apertado, o reunir-se com a família e os amigos, sem máscaras... Faz falta estar perto, estender a mão e saber que existe a possibilidade de tocar o outro, sem que isso soe uma ameaça... E não há telefonema, chamada de vídeo, live, saudação de cotovelo que resolva. Nosso maior desejo é a comunhão, e comunhão não se faz na ausência, mas na presença total do outro.

Talvez houvesse entre nós, ou em nós, muitos desprezadores do corpo, muitos banalizadores do corpo. Habituados demais ao corpo, tão habituados, talvez muitos de nós não dávamos pela sacralidade do corpo. Talvez estivéssemos mesmo ausentes de nosso próprio corpo... Como era mesmo que nos tocávamos, como abraçávamos, como olhávamos o outro, como lhe estendíamos a mão?

Agora, quando andamos pelos lugares, preocupamo-nos em manter distância das pessoas, e olhamo-nos por trás das máscaras, apenas os olhos a se cruzarem, ora sorridentes, ora sérios, temerosos e carregados de esperança... Todos, mesmo os mais chegados, de repente podem nos parecer estranhos, algozes e vítimas ao mesmo tempo, e é tão estranho...

Talvez estivéssemos mesmo precisando aprender a tocar as almas, antes de tocar os corpos. Estender os braços de nosso amor em sacrifício para tentar alcançar aquela terra pouco explorada no coração do outro, como se tivéssemos dedos de brisa, pés de algodão, e fosse quase uma audácia pedir licença para ali permanecer. O outro será sempre um mistério sagrado, que não se pode tocar sem se comprometer. Por isso a necessidade do cuidado, da delicadeza, da cortesia no tocar, no olhar, no falar...

Talvez estivéssemos mesmo carentes de toques verdadeiros, de olhares que vissem para além da superfície e ousassem chegar ao território de nossas almas, sequiosas de comunhão fraterna. Queira Deus – queiramos nós! – que aprendamos a lição.



Kalliane Amorim

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Lições deste tempo: o silêncio


Outro dia, estávamos, meu filho e eu, realizando a experiência de plantar feijões. Não como no meu tempo de criança, em que colocávamos os grãos na terra ou num copo, envolvidos em algodão, e só sabíamos que tinha dado certo uns sete dias depois, quando finalmente a plantinha chegava à superfície. Colocamos os grãos num pote de vidro, de forma que pudemos acompanhar sua germinação dia após dia, as pequenas raízes se formando, os grãos perdendo sua casca e se abrindo para dar lugar à primeira haste com a primeira folha, antes de chegar à superfície. Dos cinco grãos, apenas dois de feijão carioca se desenvolveram e agora estão num vaso para serem devidamente cuidados - quem sabe não colheremos um feijão verdinho para nosso almoço, acompanhado de manteiga, queijo de coalho e coentro? Que meu santo amigo Guimarães me perdoe, mas coentro aqui não pode faltar, só no dia em que ele vier para o almoço, porque amigos a gente recebe, e recebe bem, fazendo os gostos. Os outros três grãozinhos, que eram de feijão preto, fecharam-se em si mesmos e se recusaram a germinar - vou precisar recorrer a meus amigos biólogos e agrônomos para entender o porquê, que meu cientista mirim não gosta de ficar sem respostas.

Pois bem, enquanto realizávamos a tarefa de casa, observando o crescimento contínuo das plantinhas, fiquei a pensar que estamos todos como esses grãos nesses tempos de pandemia. Em nossas casas, sozinhos ou acompanhados, estamos sob um peso que nos pressiona a decidir se vamos germinar ou não, assim como os grãos, em sua casa de vidro, comprimidos debaixo de camadas e camadas de papel toalha umedecido, expostos ao sol e ao sereno da noite, trabalhando em suas entranhas para se tornar algo maior, uma planta, generosa em suas vagens repletas de grãos. E tudo se passando no silêncio: quem ouve o romper glorioso das sementes, o avançar ininterrupto das raízes, o desenrolar da primeira haste, empurrando o peso que necessariamente a comprime num espaço apertado? Não, ninguém pode ouvir quando finalmente a primeira folha se abre ao sol, como a toalha de mesa limpa e engomada que gentilmente estendemos para as ocasiões especiais, junto aos que amamos.

Na verdade, sempre que situações indesejáveis nos acontecem, somos levados a tomar decisões acerca de nossas vidas, a escolher como precisamos reagir e quem devemos nos tornar. Em geral, há um abismo imenso entre o que desejamos e o que, de fato, precisamos. Até que tenhamos harmonizado as nossas reais necessidades e os nossos desejos, o caminho é longo, e geralmente árduo. Mas não há caminho em que não haja belezas e aprendizados - depende de como o aceitamos.

Cristo nos lembra que a semente precisa morrer para dar fruto. Sempre há algo em nós que precisa morrer para dar lugar a outras coisas, e nesse processo é importante silenciar, estar a sós consigo, afastar-se dos ruídos dispersadores. Ir até o fundo de si para retornar, radiante, à superfície. Ir ao deserto, sozinho, e de lá voltar, transbordando de palavras divinas. Pelos lábios do profeta Oseias, é o próprio Deus quem diz que nos levará ao deserto e falará ao nosso coração. Deus sempre conduz os que Ele ama para o silêncio e a solidão, não é possível nos achegarmos a Ele sem desvelarmos a nós mesmos.

Se esse encontro com o que somos dói, tanto melhor. Liberta. Faz-nos reconhecer nossa frágil condição, torna-nos mais compassivos, mais capazes de nos ofertar aos outros, mais capazes de sorrir de nossas próprias falhas e, assim, desarmar o que em nós quer nos roubar a verdade.

Penso que a humanidade estava precisando de uma pausa, uma longa pausa debaixo do peso de seu próprio infortúnio. Penso que os tantos que se foram são, dignamente, sementes para os novos homens que surgirão. E os que aqui continuam, também sementes, a escolher se vão germinar ou não, como os grãos de feijão no pote de vidro. O tempo dirá.




Kalliane Amorim

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Lições deste tempo: a casa

"Desamor, indiferença, nunca serão capazes de gerar poder suficiente, de demorar-se atentamente sobre um objeto, segurar e esculpir cada detalhe e particularidade nele, por mínimos que sejam. Apenas o amor é capaz de ser esteticamente produtivo; apenas em correlação com o amado é possível a multiplicidade plena." 
(Mikhail Bakhtin)      

O amor nasce e cresce da apreciação do ser ou objeto amado, e, creio eu, ninguém consegue apreciar as particularidades do que quer que seja se não se permitir parar e ligar as antenas dos sentidos, a fim de captar sua beleza, sua singularidade, sua essência. Para amar é preciso conhecer, e conhecer requer algo que desde criança fazemos: experimentar. O amor, longe de ser uma abstração, é uma experiência, é empírico. Não é à toa que as palavras saber e sabor têm a mesma raiz. 

No entanto, não basta experimentar e conhecer para amar, é necessário haver em nós uma certa disposição, um esforço - esforçai-vos, diz Cristo - em tornar contínuo esse proceder, pois aquele/aquilo que amamos ganha novas formas, contornos e jeitos à medida que o tempo passa. Não podemos pensar que já conhecemos, experimentamos e amamos o suficiente, porque o amor não se esgota, há sempre algo a ser descoberto, observado, apreciado... 

Ah, pobres de nós que, amordaçados pelo hábito, deixamos de cantar a novidade do trivial, do rotineiro, do comum... A nossa súplica deveria ser pela eterna novidade de tudo que nos é familiar, pela surpresa e encantamento de tudo que nos é corriqueiro. Como nossa casa, os espaços e objetos que a compõem, as pessoas que dividem a vida conosco, os animais domésticos que se integram à família e os bichinhos que, pacificamente ou não, vêm nos visitar de vez em quando.

Quando começaram os anúncios da necessidade de isolamento social em razão do coronavírus, vi muita gente reclamando da "angústia" de ter que permanecer em casa, isso para quem não estava, por necessidade, tendo que sair para trabalhar ou labutar em busca de um emprego, ou, drasticamente, para quem sequer tinha uma casa onde se abrigar. A casa passou a incomodar, a ser um ambiente hostil, uma prisão... Será? 

Será que tantas saídas, passeios, ausências, não eram já, na verdade, uma fuga de si mesmo? Será que, na verdade, não era a casa que incomodava, mas o fato de que o indivíduo estava se vendo forçadamente a permanecer consigo, debaixo do próprio teto, em vez de se dispersar por aí? Quando não estamos bem conosco, quando não estamos minimamente encontrados em nós mesmos, nada satisfaz, nenhum ambiente agrada, ficamos inquietos, buscando, buscando, buscando... O quê? Certeza? Verdade? Paz? 

É preciso arrumar a casa interior para apreciar a casa exterior. Esta é uma extensão daquela. Não se pode amar uma e desprezar a outra. Mas isso às vezes leva tempo, porque na verdade somos muito lentos para determinadas coisas. Temos pressa de cumprir tarefas, fazer negócios, ocupar o tempo com mil e uma coisas extremamente urgentes e necessárias, e terminamos a jornada do dia lamentando  por ele não ter mais horas. Não ouvimos os avisos interiores de que precisamos virar o leme e buscar outra rota para nossa viagem nesse mundo, e vamos empurrando a vida de qualquer jeito, até que uma ameaça invisível nos põe contra o muro de nossas certezas inabaláveis e ordena: Pare!!! Pare e olhe à sua volta, pare e olhe dentro de você! Há duas casas para cuidar. Aliás, há uma casa só, porque uma é o espelho da outra. 

É preciso passar a vassoura, tirar o pó acumulado, passar lustra-móveis, reorganizar gavetas e armários, pôr o lixo fora, podar as plantas, arrancar as ervas daninhas. É preciso ordenar tudo. Depois sentar e apreciar o resultado do trabalho, e a cada dia se dispor a realizar e a aperfeiçoar as mesmas tarefas. Sempre aparece uma novidade em meio à faxina, mesmo que os móveis e os objetos sejam os mesmos e ocupem exatamente os mesmos lugares. 

Haverá dias em que, concentrados em tarefas corriqueiras, como dobrar os lençóis da cama, partir o pão, abrir a torneira do chuveiro, recolher os brinquedos dos filhos pela casa ou desligar todas as luzes, olharemos espantados para nossas mãos e, surpresos, pensaremos como terá sido possível não reparar bem nelas, no quanto trabalham, no quanto podem cuidar dos detalhes, no quanto se movimentam harmonicamente para construir, com gestos, a estrutura de nossa casa. E perceberemos que essa construção nunca é solitária, mas sempre solidária. 

Haverá dias em que nos demoraremos atentamente sobre nossas moradas - nosso ser, nossa casa, nossa rua, nosso mundo -, sobre os objetos, as plantas, os bichos, as pessoas, as situações, e aprenderemos a amá-los no que são, sem cobranças, sem acusações. Aprenderemos a amar aceitando e nos doando.

Haverá dias em que um abrir de olhos, uma fresta de janela, um cheiro de pão assado, um choro de criança, uma canção ouvida ao longe, um nadinha de nada arrancará sorrisos e algumas lágrimas. Estaremos vivos, e em nossas casas.

Haverá dias em que, aprendizes incansáveis, não deixaremos minguar a esperança de dias assim.



Kalliane Amorim.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

De memórias e canções

Hoje, 11 de junho de 2020, a Igreja Católica celebra a festa do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, vivo e presente na eucaristia. Em todo o mundo, o Santíssimo sai em procissão pelas ruas - o único dia do ano litúrgico em que oficialmente ele sai, levado por bispos e sacerdotes, com toda a pompa, cercado de religiosos, incensado, tendo em seu caminho inúmeros tapetes de sal colorido, serragem, pó de café, formando estampas lindas, desenhos referentes a Cristo, Nosso Senhor, que está vivo, mais vivo do que nós, ressuscitado e ressuscitante, como sempre diz um dos padres da minha querida Paróquia de São Paulo Apóstolo.
Hoje, 11 de junho, também é véspera de uma data que, comercialmente, leva os casais apaixonados, casados ou não, a trocarem presentes, cartões e flores, a saírem para jantares especiais e, entre juras de amor, celebrarem a romântica data, recordando o dia em que se conheceram, os micos e perrengues que passaram juntos, as manias de cada um, enfim, as particularidades que fazem de cada história de amor uma narrativa única, que clama por sinais sacramentais para que perdure ao longo do tempo - cada uma das pequenas lembranças, registros fotográficos, vídeos, é como que um elemento de acesso ao essencial que precisa sobreviver aos obstáculos e tempestades da vida, as quais, cedo ou tarde, aparecem a fim de pôr à prova o amor.
Hoje, 11 de junho, para mim, é véspera de uma outra data - o dia em que recebi a notícia de que era, a partir daquele instante, mais uma das mulheres a compor as estatísticas de pacientes portadoras de câncer de mama. Era 12 de junho de 2018. Fui a última a ser atendida naquele dia, a conversa com a médica seria longa, não seria justo deixar as outras pacientes esperando. No fundo, já suspeitava que aqueles sintomas não seriam coisa simples de resolver: calor local, vermelhidão e densidade incomum na mama esquerda, que apareceram subitamente, um mês depois de haver realizado exames de imagem que me garantiam não haver nada de anormal ali. Em cerca de dois meses, entre o segundo exame de ultrassom e o diagnóstico, vindo depois de uma ressonância e um procedimento para realização de biópsia, o tumor avançou seus tentáculos, cravando em mim aquela sensação de estar recebendo uma sentença de morte. Porque é exatamente assim que nos sentimos, como se se abrisse um abismo à nossa frente, ou então como se todas as luzes se apagassem e fosse necessário caminhas às apalpadelas, na escuridão.
Meu esposo estava comigo, segurando minha mão, enquanto algumas lágrimas me rolavam de par em par.  Minha mastologista, Dra. Carolina Diógenes, antes de me explicar a bateria de exames necessária ao início do tratamento, olhou-me e disse que havia passado a tarde pensando em como me dar a notícia, até que, atendendo outra paciente, percebeu, num pingente que esta estava usando, a inscrição referente ao Salmo 90. Lembrou-se, então, que era o salmo que havia aprendido com o seu avô e não teve dúvidas: era o que precisava me dizer naquele momento. "Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita: tu não serás atingido", diz o salmista. Agarrei-me a essas palavras, crendo na promessa que ao final se canta: "Pois que se uniu a mim, eu o livrarei; e o protegerei, pois conhece o meu nome. Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória. Será favorecido de longos dias, e eu lhe mostrarei a minha salvação".
Havia dez meses que havia conhecido a Comunidade Católica São Padre Pio. Como sei que Deus sempre procede com sabedoria, creio que esse tempo foi uma preparação para tudo que eu viria a experimentar ao longo do tratamento. Redescobrir minha fé católica e me encontrar, pessoalmente, com um Jesus que até então eu não conhecia, em momentos de adoração, retiros, missas, formações, vivência realmente da fé, foram o combustível para que eu, naquele 12 de junho, ao sair do consultório da médica, acompanhada de meu esposo, não seguisse para casa, mas fosse, antes, à casa de meus pais, comunicar-lhes a notícia, e depois à comunidade, pois estava escalada para cantar no grupo de oração. Família, de sangue ou afinidade, é sempre porto seguro, chão firme onde pomos nossos alicerces.
Não é fácil ouvir que estamos com câncer, mesmo se tratando de um tipo que, cuidado a tempo, tem grandes chances de cura, muito embora quando se fale em câncer de mama se esteja falando de uma gama de doenças, cada uma com suas particularidades. Isso a gente aprende com o tempo, até a linguagem técnica dos exames e protocolos, com todas as suas siglas, se torna comum para quem está em tratamento. Naquela ocasião, diante de minha médica, dois pensamentos me vieram à cabeça: vou morrer jovem e não verei meu filho crescer. Porém, agarrada ao salmo que ela me entregava como uma mensagem dos anjos, retomei o fôlego e fui cantar. Era o que podia fazer de melhor naquela noite, em vez de me deixar esmorecer. Sei, é claro, que não faria isso se não fosse a própria mão de Deus me sustentando.
Cantei, cantei, mas nem me lembro mais exatamente das canções. Lembro bem que, enquanto cantava, os olhos fechados, só me sentia levada pelos braços de Jesus, parecia que dançávamos, Ele, eu e uma cruz entre nós. E não é assim que deve ser, estejamos ou não em crise, doentes, sozinhos?... Ouvi certa vez que a cruz é fiel e pontual, sempre chega no exato momento em que precisamos dela para crescermos espiritualmente, porque a dor ensina, mas o melhor ensinamento dela não é a gemer, e sim a cantar. Feliz de quem, em meio às cruzes de cada dia, encontra em Deus motivos para louvar, agradecer e acreditar que nada acontece sem a permissão nem fora do alcance de seu olhar. 
Seu olhar que nos acompanha, apaixonadamente, sua voz que nos fala, constantemente... Ele está ao nosso lado, alegrando-se conosco, chorando as nossas dores e angústias, segurando nossa mão quando o medo se aproxima, exortando-nos quando nossas fraquezas nos ameaçam titubear, confessando-nos, a todo instante, como nos ama e como somos belos quando reconhecemos seu tudo diante de nosso nada. Somos, em tudo, dependentes de Deus. O mundo grita o contrário, perturba-nos com seus discursos de que somos capazes, de que somos invencíveis, de que olhar para nossas imperfeições é ruim e temos que focar apenas nas qualidades, como se tudo o que somos e temos não fosse dádiva de Deus, como se a verdade dita por Cristo - "sem mim, nada podeis fazer" - fosse uma ilusão.
No dia 25 de junho de 2018, estava eu iniciando o tratamento quimioterápico. Foram 15 sessões de quimioterapia, seguidas por uma mastectomia com retirada de linfonodos. Depois vieram 28 sessões de radioterapia e mais um ano de terapia alvo com Herceptin, uma medicação específica para meu caso, já que eu era portadora de uma neoplasia invasiva marcada por um tumor do tipo Her2 +, o que significa que uma proteína responsável pelo crescimento das células no corpo estava em desordem.
No entanto, para minha surpresa e também das médicas que me acompanhavam, em meados do ano passado um outro tumor apareceu, na mama direita. Não uma recorrência, uma recidiva, como se chama na medicina. Mas um outro tumor mesmo, de outro tipo, descoberto numa ressonância magnética e confirmado depois de uma outra biópsia. Assim, nem havia terminado o tratamento do primeiro câncer, já começava a me tratar do segundo. Veio uma outra mastectomia com retirada de linfonodos, o que me deixou com algumas restrições nos braços, mas nada que me impossibilite realizar minhas tarefas cotidianas, apenas tenho que me acautelar mais para não sofrer lesões de natureza alguma. Após a mastectomia, tivemos que enviar o material da biópsia para uma reanálise em São Paulo, pois os médicos suspeitavam de que havia algo a mais, e de fato havia: um outro tumor, fantasma, que não foi visto na ressonância por se tratar de células de outra natureza. Cada dia uma surpresa, pelo menos creio que do coração eu não morro.
Pois bem, depois desse resultado, vieram mais 28 sessões de radioterapia, encerradas no início de março desse ano. Cerca de duas semanas depois, estava eu internada no Hospital Wilson Rosado, para ser cirurgiada: uma histerectomia, necessária para a continuidade do tratamento, e um implante de catéter, já que não poderia ter mais os braços perfurados. Exatamente no dia em que se celebra o Santo Arcanjo Gabriel, o anjo do anúncio da encarnação de Cristo no seio de Maria, estava eu no centro cirúrgico, meio grogue dos efeitos da sedação e da anestesia, mas ouvindo claramente a ginecologista que me acompanha há anos, Dra. Isabelle Cantídio, me perguntar se eu queria ouvir música enquanto os procedimentos eram realizados. Respondi que sim, e ainda lembro de haver perguntado se poderia cantar também, ao que recebi um delicado não. Ainda rio com essa história, como uma pessoa sendo cirurgiada pede para cantar? Só estando sob efeito de drogas mesmo. Não cantei, é claro, mas intimamente passei o tempo todo a cantar as canções que escolhi, todas da irmã Kelly Patrícia, do Insituto Hesed, local que tive a graça de conhecer em março do ano passado, um recanto do céu aqui nesta terra. Quem conhece, sabe do que estou falando.
Passados 19 dias desses procedimentos, retornei à quimioterapia. Já se foram três sessões, faltam três para finalizar e, depois, seguir adiante, com medicações específicas, porém não mais intravenosas. Oro para que Deus me conceda, em sua misericórdia, bom êxito nesse tratamento, para que eu possa, um dia, ouvir de meus médicos um sonoro e abençoado "acabou", mas oro, principalmente, para que meu coração não se afaste de quem, em todo esse tempo, me tem ensinado que a melhor canção e o melhor credo nascem de um coração que, pouco a pouco, vai aprendendo a louvar em todas as circunstâncias, vai aprendendo a se conhecer - porque é impossível se aproximar de Deus sem que nos aproximemos de nós mesmos, Ele é perito em nos revelar a verdade, Ele que nos conhece no mais íntimo de nós - e vai aprendendo a se abandonar à sua vontade. Todo o esforço de nossas vidas deveria ser no sentido de nos unir à vontade de Deus e deixar que ela prevaleça, nós que tanto teimamos em fazer as coisas de nosso jeito e a nosso tempo, até o dia em que Ele nos mostra que não é bem assim.
Amanhã, 12 de junho de 2020, fará dois anos que estou em tratamento. Venci o primeiro câncer e, com a graça de Deus, hei de vencer o segundo. Com fé, paciência, perseverança, gratidão e alegria no coração, alegria que ninguém rouba porque vem da própria fonte da vida. Com tudo isso e mais a companhia de todos que eu amo: meu marido, meu filho, toda a minha família e meus amigos que gentilmente se lembram de mim, mandando-me mensagens, ligando-me, orando por mim.
E hoje, dia 11 de junho, dia de Corpus Christi, assistindo em casa, por meio das redes sociais, o trajeto do Santíssimo Sacramento pelas ruas de minha cidade, sem tapetes  coloridos para honrar sua passagem, eu só pude agradecer pela sua companhia em cada momento que passei, pedindo para que possa honrar e glorificar seu nome com minha própria vida. Bem que eu gostaria, eu e muitos católicos, de estar numa bela aglomeração, vendo de pertinho o Senhor, ofertando-lhe flores, mas o momento atual exige que fiquemos em casa. Mas de casa, de qualquer lugar, é possível ofertar as melhores flores de nossa vida a Ele, seja cantando, preparando uma refeição para os nossos, limpando a casa, realizando qualquer atividade. A todo instante, podemos estar em oração, ainda que ocupados com nossos afazeres.
Quero terminar dizendo que nada é mais real do que essa presença velada, escondida, no meio de nós. Nada é mais real do que crer que, sejam quais forem as circunstâncias, nunca estamos sós. Em outras oportunidades, escreverei sobre algumas histórias e vivências desse tempo. Agora, já é hora de descansar das lides do dia, entregar ao Senhor o que hoje vivi e repousar na certeza de que seus olhos me olham e de que a manhã que Ele já prepara me chegará cheia de esperança, de beleza e de novas canções por cantar.





Kalliane Amorim
 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Terreiros

À minha família, com as boas lembranças da Camponesa


Passem ventos, passem chuvas,
passem pés pelos cercados,
passem luas prateando
suas túnicas de barro...

Terreiros... terreiros...
Terreiros onde corri...

Terreiros tão bem varridos
no ofício das moradeiras...

Terreiros enlameados:
os pés largos e descalços
à sombra das catingueiras...

Terreiros de onde avistava
o estreito banco de madeira,
a sopa no prato fundo,
a ágata descascada...

A avó emoldurada
na janela, ao sol poente...
O ângelus cobrindo,
seu lençol alaranjado,
o terreiro e toda a gente...

A antiga casa, sua alvura
feito uma súbita garça,
feito renda das núpcias
do baixio e da enxada...

Terreiros... terreiros...
Terreiros, onde estais,
senão sob esses chinelos
da saudade que vos canta
para além dos umbrais da vida?...

Essa vida, que, vivida,
sempre espera viver mais.




Kalliane Amorim

De como nascem os poemas

Poesia é, antes de tudo, um exercício de olhar. Por isso é tão democrática, vive nos olhos de letrados e iletrados, habita a alma de quem quer que se recuse a sucumbir sob os coturnos da vida e veja, inclusive nesses coturnos, algum brilho capaz de provocar um movimento na alma.

Não há temas que não sirvam à poesia, como diriam os famosos versos da canção Clube da Esquina II: "De tudo se faz canção, e o coração na curva de um rio, um rio, um rio, um rio, um rio..."

...

Era final de ano, e meu amigo Hildeberto Barbosa me envia outro de seus exercícios poéticos, direto de Maceió, à beira-mar:

Agora espio o mar
e as águas dançam
sob o sol, pequeno
verso solitário
que colore a vida,
dá calor à alma
dos homens
e dos vegetais.

Espiando o mar,
lembro como és
líquida e lânguida,
palavra alada
que voa por dentro
de meu velho corpo.

É chegada
a hora de partir
para o nada
da aventura.
Fazer a última
viagem por dentro
do coração.
Amar a gratuidade
de perder
e ser maior
no que resta,
nas sobras do ser.


Diante de mim, também havia água, uma garrafa de água mineral. Não estava desfrutando do mesmo prazer de me embebedar da paisagem marítima, porém há sempre que se contentar com o que se tem, cada momento, com tudo que nele há, vale. E, olhando para minha garrafa de água mineral, já sorvidos alguns goles, respondi aos versos de meu amigo:

Pois agora -
espia só -
espio a garrafa
de água
sobre a mesa.
A garrafa,
meio cheia,
meio vazia.
A água,
em estado 
de calmaria.

E lembro
que é fundo,
profundo,
o poço
onde a sede,
em ondas,
se agita.
E penso
que enquanto
há sede,
o olho cintila.

Por isso
não movo um dedo
em direção
à garrafa sobre a mesa.
Nesse intervalo
entre a coisa e o ser,
um verso, talvez,
amanheça.


Como disse Bahktin em uma de suas primeiras obras, só o demorar-se amorosamente sobre um objeto confere ao homem essa capacidade de criar, de produzir, de elevar a si mesmo. Assim seja!




Kalliane Amorim



Conversa de poetas

Há cerca de um ano, conversávamos por meio de uma rede social, que muitos quilômetros nos separavam: ele lá, na Paraíba, eu cá, no Rio Grande do Norte. Não suspeitávamos que chegaria este tempo de agora, em que as conversas, obrigatoriamente, têm que ser assim, sem perspectiva próxima de um face a face, num café, falando da beleza e das lições da vida e dos livros.
Nesse dia, a pauta era a dicotomia vida/morte. Ele quem começou:

Sagrada a pedra que pulsa no calor da noite.

Sagrado o céu que se esconde dentro de mim.

Sagrada a senha
que abre a porta
do desespero
e me veste a alma
incendiada
de estrelas.

Sagrado o cavalo mudo da palavra
aberta para as planícies da vida.

Sagrada, a vida.
Mais sagrada 
a morte, que vai
me levar para nunca mais voltar.


E eu respondi, pensando na morte e seu mistério;

Para onde vai o homem
quando seu corpo
é só um corpo que some?

Onde tempo e espaço
não têm nome,
o que é feito do homem?

Ó morte, tua face ocultas...
Um passo, e desvelas
teu segredo à criatura.


E, lançando possíveis respostas às minhas perguntas, ele disse, não sem se questionar ao final:

Homem,
não vou a lugar
nenhum
e vou a todos
os lugares.

Principalmente
aos lugares
que não existem.

Pode ser
uma cidade antiga
e submersa
na agonia.

Pode ser um jardim
feito de lilases acesos.

Pode ser a cratera
da terra desolada.

Qualquer geografia
é falta, é perda.

Homem,
que porto é seguro?

A casa, o lar,
o túmulo, o poema?


Hoje, passados tantos dias dessa conversa em versos, eu retomo esse fio de palavras para lhe dizer, Hildeberto:

Homem,
o que me move é o corpo
e algumas poucas palavras.

Sentidos e símbolos
soerguem-me nas manhãs,
concretos e densos
como a água, como o vento,
em estado de fotografia.
Mas puro instante,
volátil, bem sei,
entre o peito largo
e as mãos vazias.

Homem,
por mais que me ampare
de mim,
sempre me falta a pedra
onde recostar o que vim
ser e fazer nesta vida.

Pobre,
agarro-me à terra,
beijo-a, minha poesia,
eu, homem apenas,
a esperar o cantar dos galos
anunciando a cor do dia.



.............

Poemas de Hildeberto Barbosa Filho e Kalliane Amorim.






 

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Borboletas

Borboletas | Reflexões Judaicas


Borboletas, borboletas,

vão fazendo piruetas

sobre as flores do jardim,

são pequenas bailarinas

de vestidos coloridos

voando no ar assim.

 

5 formas de atrair borboletas para o jardim | Blog Plantei


Assim como se fossem

feitas de fina seda

suas asas farfalhantes,

e por elas transpassassem

as cores do arco-íris,

cada qual mais cintilante.

 

AS BORBOLETAS MAIS LINDAS DO MUNDO | Imagens borboletas, Papel de ...


Parecem mesmo suspensas

dentro da roda do tempo

que passa, louco, a correr...

Irmãs da brisa macia,

só querem a luz do dia

e flores para viver.

 

AS BORBOLETAS MAIS LINDAS DO MUNDO | Papel de parede borboletas ...


Borboletas, borboletas,

se em mim brotassem asas

e eu pudesse, então, voar,

pousar leve sobre o vento,

voar por cima do tempo,

sem estrela a me guiar...

 

Borboleta exótica Foto stock gratuita - Public Domain Pictures


Tenho apenas as palavras,

tenho apenas minha voz,

tenho apenas meu cantar...

Mas esse canto é tão leve

que imagino ser assim

o seu voo em meu olhar!





Kalliane Amorim


Grãos das montanhas

Passa o vento tão de leve,

tão de leve vai roçando

a armadura das montanhas

com seus dedos muito brandos.

 

Passa leve e vai levando

nas suas luvas de ar

pequenos grãos das montanhas

para oferecer ao mar.

 

Tantos grãos a se espalhar

ao longo de toda a praia,

beirando a dança das ondas,

bailando com suas alfaias.

 

Se o sol adormece, se raia,

o vento segue com o tempo,

passando pelas montanhas,

em seu trabalho tão lento.

 

Vão passando o tempo e o vento,

e as montanhas, já esquecidas

de que foram grandiosas,

seguem o curso da vida.

 


Qual o tamanho de um grão de areia? - BioOrbis



A seus amigos unidas,

sob o sol que as acompanha,

amontoam-se na praia

as lembranças das montanhas.

 

As mãozinhas que as apanham

somente para brincar,

construindo seus castelos

ali, à beira do mar,

 

sequer podem suspeitar

que têm o tempo nas mãos,

o passado e o presente

ocultos em cada grão.

 

Tempo e vento passarão

de leve, pela armadura

das montanhas mais distantes,

tornando-as areia pura.

 

Faz parte dessa aventura

as mudanças aceitar,

ser grande, depois pequeno,

mas ser todo em qualquer lugar.

 

Depois que o tempo passar,

cada grãozinho de areia

que um dia já foi montanha

se unirá à maré cheia.

 

Talvez nem mesmo creia

o pobre e pequeno grão,

lá no fundo do oceano,

junto a tantos outros grãos,

 

que seu nobre coração

de pedra resistirá:

seu destino, ao fim das contas,

é tornar-se o assoalho

que sustenta o imenso mar.








Kalliane Amorim

...

Cada grão de areia do planeta é belo e único, visto ao microscópio. Se assim é com os grãos de areia, que dirá o ser humano, visto de perto, visto de dentro? 
Para conferir a beleza dos grãos de areia de diversas partes do mundo, visite o endereço: http://www.sandgrains.com/

Na rede azul

Mãe e bebê dormindo. Ilustração de Anna Speshilova. | Pintura mãe ...


O vento soprou, soprou, soprou...

O vento entrou de mansinho

na varanda e balançou

a varanda da rede azul

em que dormia um menininho.

 

O vento ventou, ventou, ventou...

O vento fez um torvelinho,

derrubou o vaso vermelho

na varanda onde dormia,

na rede azul, o menininho.

 

O vento voou, voou, voou...

O vento voou ligeirinho,

nem viu vir a mãe cantando

para adormecer de novo,

na rede azul, seu menininho.




Kalliane Amorim




quinta-feira, 4 de junho de 2020

A onda

Hazy Beach Day , 6x6, oil on board, Maryanne Jacobsen, beach ...



A onda vem vindo,

ligeira, vem vindo,

vem vindo, faceira,

querendo prender

meus pés com as suas

correntes de espuma,

mas sou mais ligeira,

sei me defender!

 

A onda vem vindo,

fazendo barulho,

a areia parece

se estremecer!

Mas sigo serena,

sou só calmaria,

jamais poderia

deixar-me abater!

 

A onda vem vindo,

vem vindo tão forte,

revirando os barcos

ao entardecer,

retorcendo as velas,

assustando as aves,

pensando que a ela

eu vou me render.

 

Tão linda é a onda,

tão forte é a onda,

mas tão esquecida...

Parece não crer

que seu vaivém

é mestre e me ensina

a tudo enfrentar,

a nada temer!

 



Kalliane Amorim


Em pleno mar

Валерио Либралато. Акварель (com imagens) | Paisagem em aquarela ...




Içemos todas as velas, estamos em pleno mar!

 

Nesse mar de águas profundas, de águas a rodopiar,

conduzidas pelas mãos do dançarino solar,

guiadas pela canção da bailarina lunar!

 

Içemos todas as velas, estamos em pleno mar!

 

Nesse mar de branca luz, que se estende pelo ar,

em ondas, em tantas ondas, impossíveis de enxergar

com os olhos limitados, mas ébrios de contemplar!

 

Içemos todas as velas, estamos em pleno mar!

 

Água e luz se movimentam, movimenta-se o ar,

numa ciranda contínua, num eterno bailar,

porque a vida desconhece a palavra repousar!

 

Içemos todas as velas, estamos em pleno mar!

 

Os raios do sol se lançam nesses espelhos do ar,

desse encontro um manto azul se estende sobre o mar,

um manto de azul imenso que nos chama a silenciar!

 

Içemos todas as velas, estamos em pleno mar!

 

Os ventos encrespam as águas, em ondas, a carregar

tantas vidas nessa dança, até a beira do mar,

deixando suas brancas rendas à areia se enlear!

 

Içemos todas as velas, estamos em pleno mar!

 





Kalliane Amorim

Ribeira

Quando a Poesia e a Música se encontram, nasce a Beleza. E esta sempre é um caminho de encontro com Deus, se carrega consigo a Bondade e a V...