A meu filho
Em breve as tuas mãos
Em breve as tuas mãos
não mais caberão nas minhas...
Arqueadas, em posição de voo,
verei tuas mãos abertas,
à procura de paisagens
além da parede em que projetávamos
as sombras dos pássaros em noites escuras,
quando a luz de uma vela nos bastava
para alcançarmos todos os mundos...
Lembrarei como tuas mãos
remexiam a terra em minh'alma,
criando, sem saberem, uma outra mulher...
Uma outra menina, é bem verdade,
que corre pelos outonos dos meus cabelos,
de quem sequer suspeitas
tu, com tuas mãos aladas.
Ah, como desejarei, nesta hora,
que me leves como lembrança
numa das tantas linhas
bordadas nas tuas mãos!
Por elas talvez eu veja
o que nunca dantes percebi:
porque tocarão outro tempo,
um tempo que não vivi.
Um dia, quando em minhas mãos
não mais couberem as tuas,
toma-me pelas mãos,
minhas mãos tão pequeninas,
leva-me a passear pelas ruas,
a pé, em busca dos pássaros,
sorvendo as cores com que a luz
do sol colore o nascer da lua,
como faço contigo agora,
agora que em minhas mãos
ainda cabem as tuas.
Kalliane Amorim
Kalliane Amorim
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